embala-a o vento da colina
está o corpo habituado
cresceu e a cada passo dado
um amor frustrado,
deita-se na cama
já ninguém a ama
entrega a existência
à eternidade
da vida não leva saudade.
romã
embala-a o vento da colina
está o corpo habituado
cresceu e a cada passo dado
um amor frustrado,
deita-se na cama
já ninguém a ama
entrega a existência
à eternidade
da vida não leva saudade.
romã
na garganta um nó
que não desata
não é de angústia,
talvez ansiedade?!
ou uma saudade resignada
que me fala da vida inteira
com ardor
e faz o favor
de ser minha companheira
fica à espera que eu entenda
que o passado é passado
só ela sabe quem eu sou
vai estar sempre a meu lado
em mim mora
a toda a hora, com pés
de veludo...
e eu... tão longe de tudo.
romã
sei da terra germinada
sei do chão de onde vim
sei da razão de tanta mágoa
sentida por mim
sei do inverno rigoroso
sei da dor e da cantiga
sei do trabalho rude e custoso
sentido p'la gente antiga
sei da chuva dávida divina
sei do verão do pó na estrada
sei de tudo de menina
lembro com a voz embargada
sei do descanso ao domingo
sei do copo na taberna
o bem e o mal distingo
pois a vida em mim inverna
sei do recolher do trigo
sei do regar da horta
minha terra meu abrigo
por te visitar ando morta
tu que me viste nascer
numa manhã qualquer
numa lonjura sem fim
quase ontem para mim
viste-me partir mulher
de ti nada mudaria
adeus até qualquer dia.
romã
meus sonhos
são vôos de abelha
são raízes sem chão
águas que o sol espelha
febre da memória
satisfação, ilusão?!!!
já deles não reza a história...
romã
eu sou quem sou
nem mentira nem verdade
tenho origem na recordação
e a saudade sempre à mão
trago o coração insatisfeito
e amor no peito
não mais, nem menos
sou suavidade,
sou tempestade
não renego o passado
sou uma noite que ainda
não findou
ou um dia prestes a morrer desolado
sou um lenço branco agitado
sou presente e futuro
mas sou essencialmente passado.
romã
o poeta que vive dentro
de mim
traz o silêncio na boca
de noite e de dia
a esperança nos olhos
no coração a melancolia
contando o tempo
e a idade
relembrando o fulgor
da mocidade
o poeta em mim
recordará pra sempre
a vida já vivida
a lágrima vertida,
o sonho de fantasia
os passos velhos
e a dor que o abatia
ao ver-se nos espelhos.
romã
nos meus olhos lês
a entrega do coração
a alegria da rendição
a cercar-me o amor
a necessidade de afecto
o fogo ateado
no ar o sonho e o
projecto que demandam
sempre novos sonhos
a vontade
de recomeçar
de descobrir novos instantes
a enlaçar sentimentos
a contornar a solidão
aqui, agora, ou em qualquer
ocasião
na alma o desejo de dirigir-te
palavras com paixão.
romã
levem-me tudo
deixai-me a esperança
límpida, azul, a anunciar alegria
deixem-me olhar distante
viver o desejo que exala do meu peito
este amor fecundante
nem que seja por mais um dia.
deixem-me acordar
como quem sonha,
que o sonho seja eternidade
deixai a saudade
no meu corpo abrasado
levem o rancor
que fique o amor
no meu coração arrebatado.
vá a escuridão, seja a luz a ficar
deixem-me a alegria de ser
levem o esquecimento de não ser
que os ventos deixem o sol brilhar
quero adormecer menina
raio de sol na campina.
romã
doces palavras eu beijo
e segredo ao teu ouvido
trazem do coração o fogo
falam do meu interior desejo
vagueiam nos meus sentidos
são como roseira que floresce
que me invade de perfume
quando o desejo em mim cresce.
neste cair do dia
meus sentidos são rubras brasas
minha boca é primavera
meus braços parecem asas
abertas de par em par
e minhas mãos
desordeiras à tua espera
para me entregar
logo me terás inteira
no abraço da noite.
romã
hoje coloquei lençóis de cetim
serei neles uma rainha
serei senhora de mim
ao desejo ninguém
se escusa
e rejeitar já não se usa
pus um cheirinho a lavanda
na pele dos meus seios
para agradar a quem amo
não vou olhar a meios
minha arte derramo
numa viagem de prazer
de gestos e movimentos
parecendo até tempestade
já me entrego, já me rendo
era tanta a saudade
que de amor me sinto morrendo.
romã